Suplementação

Prescrever hipercalórico: quando e como escolher?

Prescrever hipercalórico para praticantes de exercício que precisam ganhar peso ou massa muscular já é bem comum na área de nutrição esportiva. Nesse artigo também abordarei outros casos que podemos prescrever hipercalórico. Mas antes, é importante lembrar sobre a legislação desse tipo de suplemento.

Quais as normas da nova legislação de suplementos?

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) agrupou na nova resolução Nº 243, DE 26 DE JULHO DE 2018, alimentos que eram enquadrados como: ‘alimentos para atletas’, ‘alimentos para gestantes’, ‘suplementos vitamínicos e minerais’.
Na resolução anterior Nº18 de 2010, existia uma categoria específica para esse tipo de suplemento. Era classificado como “substituição parcial de refeição”. Entre as especificações deveria fornecer no mínimo 300 kcal na porção.
Dentre os nutrientes, os carboidratos deveriam alcançar 50-70% do valor energético do produto. Proteínas de 13 a 20% e lipídeos no máximo 30%. Além disso, poderiam ser adicionados de vitaminas, minerais e fibras alimentares.

Analisando bem, é possível perceber que ao prescrever hipercalórico estará atingindo quantidades de nutrientes equivalentes ao de uma dieta. Ou mesmo para refeições quando o objetivo do paciente é ganho de peso ou massa muscular.
Então, apesar da mudança na resolução ter extinguido essas categorias, essas informações são valiosas para que possamos saber quando prescrever hipercalórico e como escolher.

É comum prescrever hipercalórico para pacientes que querem ganhar massa muscular.

Quando prescrever hipercalórico?

Não existe uma única resposta para essa pergunta. A necessidade será sempre avaliada pelo nutricionista esportivo, conforme as calorias que precisam ser consumidas ou mesmo acesso aos alimentos. Mas existem situações que prescrever hipercalórico será mais indicado, como:

  • Anorexia pós-esforço;
  • Dificuldade de alcançar calorias devido ao gasto energético alto (atletas);
  • Dificuldade de ganhar peso com o volume de alimentos que tolera ingerir;
  • Poucos intervalos para ingerir alimentos devido ao número de sessões de treinamento;
  • Não tem acesso à alimento em horários que precisa;
  • Praticidade (mesmo que esteja em casa, quer algo prático).

Agora você já sabe quando prescrever hipercalórico. Além disso, é importante entender quais os tipos de hipercalóricos que encontramos à venda e o que vai diferenciar um do outro.

Qual a composição dos hipercalóricos encontrados no mercado?

Em média, os hipercalóricos fornecem de 400 a 600 calorias na porção. Contém quantidades moderadas de proteína (15 a 20 g) e bem altas de carboidratos (120 a 150 g). As gorduras não ganham tanto destaque, mas em alguns produtos pode ter adição de triglicerídeos de cadeia média (TCM). E isso pode aumentar bastante a quantidade de gordura, principalmente saturada.

Para prescrever hipercalórico de qualidade é importante analisar o rótulo.

O que diferencia uma marca de hipercalórico da outra?

Essa é uma observação importante, normalmente o que vai diferenciar é a qualidade dos ingredientes e a velocidade de digestão deles. Portanto, fique bem atento porque isso faz total diferença nos resultados que seu paciente vai ter.

Para dar alguns exemplos em relação à essa qualidade preciso explicar sobre os tipos de carboidratos, proteínas e gorduras. E como isso afeta fisiologicamente às respostas ao treinamento.

Qualidade dos ingredientes do hipercalórico

Temos carboidratos que possuem velocidade de digestão e absorção extremamente rápidas (maltodextrina, dextrose, frutose…). Isso fará aumentar muito a glicemia, inibindo as vias de catabolismo e sinalizando anabolismo. Portanto, suplementos que tenham em primeiro lugar esse tipo de carboidrato devem ficar mais restritos para um pós-treino.

Outros carboidratos já possuem velocidade de digestão e absorção mais lentos (waxy maize e palatinose) e são mais adequados para refeições intermediárias, pré-treino (1h30 antes) ou até mesmo para uma ceia.

Quando falamos de proteínas, precisamos diferenciar as proteínas mais completas em relação aos aminoácidos essenciais e ao teor de leucina (whey protein, proteína da ervilha). Mas também em relação à velocidade de digestão, pois existem as mais rápidas, as mais lentas (caseína, albumina) e os blends de proteínas. Esses misturam fontes de velocidades diferentes.
Isso vai ser importante, porque temos horários que o ideal seria consumir uma proteína com digestão mais lenta. Porque a ideia é favorecer o anabolismo, como antes de dormir, por exemplo.

Já em relação às gorduras, no planejamento alimentar de qualquer paciente, precisamos nos atentar as quantidades de gordura saturada. O ideal é manter entre 7 e 10% do valor calórico total (VCT). Então, observe isso também nos rótulos quando prescrever hipercalórico. O ideal para ganho de massa muscular é optar por boas quantidades de gorduras insaturadas.

Quais outros ingredientes preciso me atentar no rótulo quando prescrever hipercalórico?

Outros ingredientes que você pode encontrar ao prescrever hipercalórico é a adição de vitaminas e minerais. Normalmente relacionados ao metabolismo energético, como as vitaminas do complexo B. Ou relacionados ao suporte para síntese hormonal (zinco e magnésio).
Mas não se engane! Não é porque ele tem micronutrientes que o resultado será melhor. As evidências científicas nos mostram que esse tipo de suplementação só tem benefício para pacientes que possuem deficiência.

Além disso, é comum ver a adição de creatina, que varia entre 3 a 5 g. Pode ser interessante caso seu paciente esteja praticando um treinamento do tipo sprint, força, potência ou intermitente.

Preciso prescrever hipercalórico pronto ou posso indicar uma receita caseira?

Quando vamos olhar os rótulos dos hipercalóricos que encontramos prontos, realmente é muito carboidrato para pouca proteína. Sem falar que na maioria deles o primeiro ingrediente é a maltodextrina.
Então, quando for difícil encontrar uma formulação que atenda o paciente, você pode prescrever hipercalórico caseiro. Basta utilizar módulos de suplementos ou alimentos secos, menos perecíveis.

E atenção, você nutricionista quando for fazer uma prescrição nutricional, muito cuidado, existe uma lista de suplementos que o nutricionista pode prescrever. Essa lista é aprovada e regulamentada pela Anvisa.

É possível sim prescrever hipercalóricos caseiros práticos para o paciente e que alcancem as necessidades energéticas e de macronutrientes.

Para aqueles pacientes que precisam levar e só adicionar água onde ele estiver, você pode usar módulos de suplementos como: maltodextrina, sacarose e whey protein concentrado. Essa combinação seria ideal para situações que precisa de uma digestão mais rápida.

Agora, para aqueles pacientes que você quer prescrever hipercalórico de digestão mais lenta, você pode usar: leite em pó integral, farinha de aveia e algo para saborizar, como canela em pó, cravo ou baunilha.

Essas podem ser formulações base para prescrever hipercalórico caseiro. Ou seja, o paciente vai comprar os pacotes dos ingredientes, misturar nas porções que você calcular e guardar em potes bem fechados para ir pegando conforme o uso.

Em situações que ele tiver disponibilidade você ainda pode pedir para adicionar frutas e sucos para aumentar o carboidrato, leite para aumentar a proteína, sementes para melhorar o perfil lipídico e assim vai. Use a criatividade e as tabelas de composição.

Nossos alunos do método de Prescrição Nutricional no Exercício sabem prescrever hipercalórico pronto. Mas também já receberam as tabelas com os cálculos das calorias, nutrientes e custos das opções para prescrever hipercalórico caseiro. Vem fazer parte do nosso time.

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